O Grito!
Por isso grito! Grito porque não sei falar. Não que não saiba juntar consoantes, vogais, formar palavras e verbaliza-las, até com certa entoação. O problema é que,na maioria das vezes aquilo que quero dizer, não é igual ao que digo. Ver as expressões que não correspondem às projectadas na minha imaginação porque o que foi dito não foi o que idealizei, ou o que idealizei não foi dito e as expressões… não correspondem ao que foi idealizado, ou o que foi idealizado não corresponde às expressões. Quando isso acontece, só me apetece gritar!
Por isso grito. Grito por palavras, grito em forma de choro porque me apetece chorar. Mas não consigo. Não tenho essa capacidade de verter lágrimas. Mesmo nas situações mais dolorosas, é-me difícil chorar. E os homens também choram. Os grandes homens são os que choram, porque o choro também ele é um grito um grito visivelmente audível. Todos os que choram gritam, todos os que como eu gritam, choram.
Por isso grito. Grito porque estou ferido. Uma ferida que sangra em forma de grito. Um grito lancinante e agudo, que extravasa pelos poros da alma, como se algo tão imaterial tivesse poros. Mas mesmo na sua forma imaterial, a alma pode sangrar e ficar ferida. Ferida de morte, quando chegar o último grito, ou ferida de grito, enquanto por cá andar.
Alma que grita é alma que chora, é alma que ri, é alma que se enamora, apaixona, ama, ri novamente em gritos de gargalhadas, entristece, chora, e volta a gritar de dor. Da dor do vazio, porque o vazio é o que mais doí e chegados ao vazio, nada mais há para gritar.
Por isso Grito. Grito por palavras porque não sei gritar e no entanto, enquanto escrevo, ouço o grito das minhas palavras, neste silêncio ensurdecedor de quem grita. Grito forte, grito alto, grito mais, grito muito, grito … e no entanto… ninguém me ouve! Mas não é por isso que vou deixar de gritar. Hoje, grito... Amanhã … amanhã vou gritar também!
Por isso grito. Grito porque estou vivo. E quando estiver prestes a morrer, o meu último sopro de vida vai ser um grito. O meu último grito, aquele que vai ficar audível nos“meus”. E enquanto eles gritarem, eu vou gritar também. Um grito ausente, mas não distante, um grito indecifrável no grito deles. Já não será o meu grito, mas será também um grito meu!
Comentários
Enviar um comentário